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Após três dias calado Bolsonaro teve que atualizar o placar de barbaridades

Susana Cristalli

20/07/2019 13h33

Os últimos 200 e poucos dias, no Brasil, têm sido tão surreais que já estamos entrando num estado de torpor incrédulo. Mas no dia de ontem (19) o presidente parece ter feito um esforço extra para falar mais absurdos do que o habitual.

Coincidência ou não, essa ogiva de barbaridades que explodiu ontem veio logo depois dele ter arrancado um dente, e sido forçado a passar três dias sem falar.

Vamos recapitular.

Ele disse que é ok beneficiar o próprio filho com cargos públicos.


Bonus track: ele disse que puder dar filé mignon pro filho, vai dar.

Afirmou, sem citar dados, que não existe fome no Brasil.


Bonus track: para provar seu ponto, ele disse que ao olhar em volta não estava vendo ninguém magro.

Supostamente em nome da moral e dos bons costumes, resolveu atacar o icônico filme "Bruna Surfistinha", um dos maiores sucessos de público e crítica do cinema nacional na última década.

Negou na cara dura um fato concreto, e grave: a tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão na época da ditadura.

Ela tinha 19 anos e estava grávida. O Jornal Nacional transmitiu uma nota desmentindo o presidente.

Em tempo, a Míriam Leitão também sempre foi extremamente crítica ao PT, por isso foi chamada de golpista e tudo mais, ou seja ela é tão militante de esquerda quanto a Frozen. Esse governo não faz nenhum sentido. Nunca.

Mas não acabou não. Parece até que, em três dias de silêncio, as barbaridades tiveram tempo de se formar, articular e subdividir em várias, uma para cada tema.

Vamos lá: criticou o governador do Maranhão dizendo que ele é o pior dos "paraíba". Isso. Chamou toda a região Nordeste de Paraíba. Como faria o Boça.

Bom, está claro pra muita gente, ATÉ PARA O ALEXANDRE FROTA, que o presidente ter extraído aquele dente foi algo positivo para o governo. Pena que só durou três dias.

Infelizmente é assim, privação gera compulsão e quando libera vem tudo de uma vez.

A tática de falar algo escandaloso para distrair a opinião pública de fatos mais graves (como o corte de medicamentos gratuitos para transplantados e pacientes de câncer) é chamada de "cortina de fumaça". Mas já chegamos a um ponto no qual não se sabe mais o que poderia ser proposital e o que é realmente uma expressão de completo despreparo e ignorância.

De várias frentes está vindo o alerta sobre normalizar absurdos, porque não é possível que não exista um dia de paz (ok, houve três dias, mas vocês entenderam).

Até chegar o dia em que The Walking Dead vai começar a parecer um reality show.

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Sobre as autoras

Juliana Kataoka, jornalista e redatora, trabalhou no BuzzFeed Brasil, em agências de publicidade e outros veículos. Não consegue sair das redes sociais, mas jura que tenta. Redes sociais: Twitter Facebook Instagram
Susana Cristalli, jornalista de formação, redatora de tudo um pouco e tradutora. Moradora da internet, acorda cedo pra varrer a calçada cheia de memes do dia anterior. Redes sociais: Twitter Facebook Instagram

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