Este fim de semana nos lembrou como o mundo nunca está do lado das mulheres
Susana Cristalli
03/06/2019 10h44
No final de semana que passou uma boa parte da internet esteve tomada por dois assuntos, e os dois fizeram muitas mulheres se sentirem ainda mais silenciadas, desvalorizadas e basicamente consideradas seres humanos de segunda classe.
Vamos lá. Resumindo a história, que você provavelmente já sabe, o Neymar – que ultimamente já vinha dando uma mancada atrás da outra, como por exemplo agredir fisicamente um torcedor – foi acusado de estupro e, para se defender, achou por bem expor toda a conversa que teve com a vítima.
A jogada foi na verdade muito esperta, porque o assunto se transformou numa avalanche de memes e piadas com a suposta falta de jeito do jogador ao trocar mensagens hot. E, mais claro ainda, a intenção era mostrar que a mulher estava há muito tempo querendo ficar com ele e que ela deixou isso claro de todas as formas possíveis. Ou seja, a culpa é dela.
E pensar que a gente julgou tanto o Matthew Lewis por suas palavras proféticas (eu mesma há dois anos fiz um post sobre com o Neymar estava gato).
Mas, para além do caso Neymar em si, a notícia confirmou mais uma vez o que a maioria das pessoas pensa sobre estupro. Spoiler: não é um pensamento empático com mulheres.
Pelo jeito estamos a anos-luz das pessoas entenderem que: não importa nada do que aconteceu antes, se na hora não foi consentido, é estupro.
Não, não importa se a mulher é prostituta ou se ela é casada com você, e principalmente não importa se ela continuou falando com você depois.
Chato, né? Qualquer coisa é estupro hoje em dia, né? Não. Só estupro é estupro. Mas sempre, sempre, sempre, vai ser mais importante preservar a reputação de um homem do que acreditar na palavra de uma mulher. E ainda vêm com essa de "assim vocês desmoralizam os casos reais".
Aaah mas isso só quando o cara é rico e famoso, né? Não, Albert Einstein, mas só quando o cara é famoso vai parar na mídia (porque ELE importa).
Já neste estado de espírito, ficamos sabendo que o presidente da República tuitou lamentando profundamente a morte, aparentemente por suicídio, de Tales Volpi, criador de jingles da campanha que o levou à presidência. Antes de morrer, Volpi ficara sabendo que a amante estava grávida e por isso a espancou até ela ficar inconsciente. A mulher está em estado grave no hospital.
O presidente não mostrou pesar quando o carro de uma família inocente foi atingido por 80 tiros disparados por militares, matando o músico Evaldo Rosa dos Santos, mas o falecimento de Tales Volpi mexeu com os sentimentos mais profundos do presidente. Provavelmente a arte dele o emocionava demais. Aqui está um exemplo das letras do Mc Reaça, que ficou conhecido no meio dos apoiadores de Bolsonaro por fazer paródias de músicas de sucesso.
E, claro, suponho que a família e os amigos dele estejam lamentando mesmo, mas o presidente da república e pessoas do governo estão se pronunciando oficialmente sem nenhum receio de se associar a alguém que agrediu uma mulher.
É isso, esperamos que a semana que começa seja melhor.
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Juliana Kataoka, jornalista e redatora, trabalhou no BuzzFeed Brasil, em agências de publicidade e outros veículos. Não consegue sair das redes sociais, mas jura que tenta. Redes sociais: Twitter Facebook Instagram
Susana Cristalli, jornalista de formação, redatora de tudo um pouco e tradutora. Moradora da internet, acorda cedo pra varrer a calçada cheia de memes do dia anterior. Redes sociais: Twitter Facebook Instagram
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Vamos contar pra você, do nosso jeitinho, as histórias que mais quicaram na internet durante esta semana e que você talvez tenha perdido, ou não.