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O motivo desta conta ser suspensa expõe os furos nos critérios do Twitter

Susana Cristalli

31/05/2019 09h46

A história de como o tuiteiro Marco Aurélio, do blog "Jesus Me Chicoteia", perdeu sua conta no Twitter e, com ela, seus 30 mil seguidores na época, é quase surreal. Mas, principalmente, aponta para um problema estrutural dessa rede.

O conteúdo do perfil do Marco Aurélio consistia sobretudo em tuítes de humor, talvez um pouco ranzinza (palavras dele) mas longe de ser agressivo com alguém. Um belo dia sua conta foi suspensa sem que a rede social indicasse exatamente onde o tuiteiro havia errado.

DISCURSO AMEAÇADOR OU VIOLENTO. Mas quando, onde? "Tentei contato com eles várias vezes pelo formulário do site, cheguei a mandar e-mail para a sede da empresa na Califórnia, falei pelo Twitter mesmo com a @ oficial deles e com gente que eu sei que trabalha lá. Todos me ignoraram" contou ele para o Quicando via DM.

Bem, o Twitter está realmente cheio de discursos ameaçadores ou violentos e seria ótimo que a rede social agisse a respeito. Mas uma dificuldade que as vítimas desse tipo de ataque costumam encontrar é justamente a de conseguir que o Twitter acate suas denúncias.

Já o Marco Aurélio, sem receber respostas da rede social, acionou o Juizado Especial Cível. "Na audiência de conciliação os advogados do Twitter estavam meio constrangidos, porque nem eles sabiam o motivo. Foram lá só pra dizer que não tinha acordo", conta.

Nesse meio tempo ele criou outra conta para poder seguir usando a rede, mas essa segunda conta também foi suspensa. O motivo: "parece que tem uma regra que proíbe quem foi banido de voltar com outra conta. Recorri de novo e recebi essa resposta aí. A empresa me acusa de ter várias contas 'com o propósito de propagação do ódio"'.

Foi somente aí que o blogueiro descobriu qual era o pivô de sua suspensão. Se tratava de um reply para um amigo no qual ele dizia "eu vou te matar".

A frase tirada de contexto pode ser ameaçadora, mas aí é que entra a importância de verificar quais são os critérios para julgar conteúdo. Pois quem quiser ameaçar seriamente outra pessoa pode fazê-lo facilmente sem precisar usar frases explícitas como essa.

A suposta vítima é o humorista Maurício Meirelles, que se pronunciou e esclareceu o ocorrido. O Maurício Meirelles tem um milhão de seguidores, portanto é fácil comprovar sua identidade e a veracidade do tuíte no qual esclarece tudo, mas o Twitter não arreda pé.

E simplesmente não devolve a conta do Marco Aurélio. Sendo que não é uma questão financeira, a razão para recusar seria… não admitir que seus critérios de julgamento são falhos?

Critérios esses que deixam soltos perfis tóxicos e, muitas vezes, abertamente propagadores de discurso de ódio.

E não se trata só de discurso político.

Olhando os replies dá pra ver que esse tipo de julgamento não é raro.

"O processo original está extinto. O Twitter foi condenado, recorreu, perdeu de novo. Agora de tempos em tempos eu vou lá no Juizado pra dizer que não restauraram a conta. Aí a juíza dá outra decisão mandando aplicar multa, ou cobrar multa, ou bloquear o valor judicialmente, ou intimar por oficial de justiça". E o Twitter, nem um pio.

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Sobre as autoras

Juliana Kataoka, jornalista e redatora, trabalhou no BuzzFeed Brasil, em agências de publicidade e outros veículos. Não consegue sair das redes sociais, mas jura que tenta. Redes sociais: Twitter Facebook Instagram
Susana Cristalli, jornalista de formação, redatora de tudo um pouco e tradutora. Moradora da internet, acorda cedo pra varrer a calçada cheia de memes do dia anterior. Redes sociais: Twitter Facebook Instagram

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