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A tour didática do BBB foi de machismo básico até erros do feminismo branco

Susana Cristalli

16/03/2020 15h40

Parece até que prepararam um aulão pra gente.
A evolução das tretas do BBB está dando a oportunidade de observar e aprender sobre várias questões sociais e de gênero, passando das problematizações mais básicas para outras mais complexas de forma orgânica, gradual e crescente: desde o machismo básico e rasteiro do grupão Chernoboys, lá no início, ao racismo estrutural dentro do feminismo branco.

Tudo começou com o machismo óbvio dos Chernoboys.

O comportamento do grupinho não deixava dúvidas. Falavam da aparência das meninas e com sua autoestima inabalável subestimavam a inteligência delas: machismo clássico. Foi aí que a Marcela, e o Daniel no papel de príncipe encantado salvador da pátria, ganharam status de heróis por se posicionarem contra essa masculinidade tóxica.

Mas os Chernoboys caíram um depois do outro, como dominós. E, aos poucos, o grupo dos belos e puros se sentiu seguro de si a ponto de não reparar que também estava revelando seu lado podre. Falas e atitudes carregadas de racismo estrutural começaram a aflorar entre essa galera tão progressista, e a discussão aqui fora se intensificou.

Foi principalmente o comportamento das "fadas sensatas" com relação ao Babu que expôs um ponto fraco de muitas feministas brancas: elas (nós) acreditam que não é possível se tornarem opressoras por sua vez. Porém, spoiler: ser feminista não exime ninguém de dar mancadas com outras minorias. Este post da Tia Má explica bem.

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Nossa comoção é seletiva! Babu é reclamão, se posiciona, diz o que pensa, não fica em cima do muro e também comete erros, alguns de jogos, outros de posturas negativas mesmo! Daniel é irresponsável! Esquece com frequência o uso do microfone, o que prejudica todo o grupo, até mesmo quem nunca esqueceu! Não realiza nenhuma atividade, está sempre boiando e chegou com o bonde andando, trazendo informações de fora, e das quais ele se aproveitou! Marcela é a típica militante que levanta algumas bandeiras e outras nem se importa! A maioria das brigas de Babu é por comida! E sim, isso é algo desesperador! Passar por privações é histórico e quem já viveu isso guarda sequelas eternamente! Babu, praticamente, desde que chegou está na Xepa e Marcela com seu boy desdenhou disso! Fez piada e ainda disse: "poderia até tirar ele da Xepa, mas ele não está merecendo", "ou então a gente coloca ele no paredão, para ele direto pra casa e comer o que quiser" isso aos risos! Quando Daniel, completa a pérola:" Não consigo ver Babu no vip, não combina! Só vejo na xepa!" …Essas "sutilezas" cruéis que nós acompanham! Babu é isolado, encontrou apoio em um cara completamente equivocado que é o Prior, e passou a se comportar de forma tb equivocada, mas segue sendo respeitoso e agindo pelo grupo! Faz comida, lava os pratos, mas decidiram apenas que ele deve ser visto como um brutamontes! As falas de Daniel e de Marcela é aquele atestado de como enxergam pessoas como eu, como o Babu, que existe o lugar certo pra gente, e o nosso lugar nunca é o sucesso! Não foi brincadeira!Foi perversidade! Que a gente não seja seletivo com nossas indignações! Um homem que vem do morro, que mesmo sendo um ator premiado segue sem estabilidade não merece ser tratado apenas como um grosseirão, mas que gente não esqueça que o racismo enlouquece e acuado é natural reagir! Babu não teve direito de errar! Ninguém se comove com seu choro, da mesma forma que ninguém respondeu seu boa noite! Nos matam assim! Rindo e ainda nos culpando! #bbb #bbb20 #babu #babunaoeescravo #bigbrotherbrasil #babusantana #babubbb20

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Observando o que aconteceu após a formação do grupo dos "mocinhos", com Babu e Prior isolados, vemos que os participantes negros foram reduzidos a estereótipos.

O grupo privilegiado não conseguia entender as reações do Babu e o classificou como "mau".

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O público começou a se arrepender de ter exaltado tanto esse grupo, e depois de fadas sensatas elas ganharam um novo apelido.

Isso não significa que o Babu não tenha tido atitudes machistas e homofóbicas, mas a rejeição que ele sofre nem sequer parece estar diretamente ligada a esses erros. E o fato de alguém ser machista não justifica racismo em relação a ele (até porque nada justifica racismo).

O comentário da Ivy sobre o pente do Babu – "quem penteia o cabelo com um trem desses" – não é nem racismo velado, é racismo e pronto. Ela nunca nem viu um pente para cabelo afro, não tentou entender e julgou de maneira arrogante e racista.

Manu chegou a dizer que um casal é legal quando suas cores combinam. Enquanto isso, separado do rebanho de heteros tóxicos, Prior ia mostrando uma certa evolução e ouvindo o que Babu tem a dizer sobre desigualdade racial. Assim, foi passando pro papel de herói improvável.

Damos então uma volta completa e voltamos ao machismo, pois há mais um ponto que se junta a todos os anteriores. O erro da Manu existiu, os do Prior também. Mas só um dos dois parece ter voltado à condição de ficha limpa depois de melhorar.

Militâncias de fachada estão sendo expostas, e estamos descobrindo que ninguém é apenas mocinho ou apenas vilão, mas que todos temos muito a aprender com o outro.

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Sobre as autoras

Juliana Kataoka, jornalista e redatora, trabalhou no BuzzFeed Brasil, em agências de publicidade e outros veículos. Não consegue sair das redes sociais, mas jura que tenta. Redes sociais: Twitter Facebook Instagram
Susana Cristalli, jornalista de formação, redatora de tudo um pouco e tradutora. Moradora da internet, acorda cedo pra varrer a calçada cheia de memes do dia anterior. Redes sociais: Twitter Facebook Instagram

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Vamos contar pra você, do nosso jeitinho, as histórias que mais quicaram na internet durante esta semana e que você talvez tenha perdido, ou não.

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